
Sobre a Autora
Cristina Barbedo Ferro

A minha Infância e adolescência…
… E tudo começou em junho de 1969…
Ano de altos voos e grandes sonhos…O Homem chega à lua!
A infância é passada no Porto.
Uma infância feliz e despreocupada, como a maior parte das crianças dessa geração.
… a infuência da minha mãe
Filha de mãe bracarense, que sonhava ser estilista, algo impensável na altura, muito menos numa cidade do interior. Desenhava e costurava a sua própria roupa, o enxoval dos sobrinhos e mais tarde para mim. Comia a correr para se dedicar aos seus trabalhos. Bordava como ninguém, perfecionista, fazia crochê, tricotava…
Tirou o curso de formação feminina, deu aulas de bordados e costura. Ensinou muitas raparigas, hoje mães e avós, que encontra na rua e que ainda lhe agradecem o que lhes ensinou.
… mais tarde tornou-se professora de trabalhos oficinais. Durante épocas de mudança no ensino chegou a dar aulas de culinária, caligrafia…
Era normal ver a minha mãe a tirar cursos e mais cursos, na Papélia, por exemplo, recordo-me de joalharia em estanho, resinas, esmaltagem, artes florais, fotografia, serigrafia, etc… São exemplos de cursos e trabalhos que a minha mãe experimentou. Era normal vê-la envolvida horas e horas, dedicada aos mais diversos materiais. Gosto refinado e com um grande sentido estético. Há imagens que ficam, e ver a minha mãe a trabalhar em casa para se preparar devidamente para dar aulas e se sentir à vontade é algo que recordo com agrado. Era miúda, experimentei algumas técnicas, se fosse hoje teria tirado muito mais proveito, mas a essência ficou cá. O querer aprender e fazer peças novas, originais…
A criatividade sem dúvida foi-me dada pela minha mãe. Com ela aprendi, também, tecelagem artesanal, macramé, esmirna, fada do lar, ponto de cruz, meio ponto, arraiolos, croché e tricot.
Mais tarde na escola, naturalmente, também experimentei algumas técnicas. Para ser sincera pouco me disseram na altura. Apenas o macramé, o tricot, o croché e a costura. Já adolescente fiz imensas pulseiras de macramé que vendia às minhas amigas. Era uma maneira de passar tempo e de ganhar algum dinheiro. Tricotei algumas camisolas e cachecóis para mim e muitas camisolas e coletes fiz para oferecer e vender a amigas. Em croché apenas fiz pegas para a cozinha. Lembro-me de passar umas férias de verão dedicada às pegas (ainda existem algumas). Enchi a família, avó, tias…de pegas de cozinha. Adorava combinar as cores e vê-las “crescer”.
Em relação à costura cheguei a fazer algumas saias, para mim, todas cosidas à mão, (lembro-me de uma verde alface e de uma branca). A minha mãe talhava e eu cosia. Máquina de costura sempre existiu lá em casa, mas estava proibida de lhe tocar. Só em adulta e já mãe é que compro a minha 1ª máquina de costura e aprendo a usa-la sozinha.
… a influência do meu pai
Mas tenho de falar, também do meu pai. Ele teve grande influência no meu percurso de vida profissional. O meu pai era comercial numa empresa que entre outras coisas vendia produtos químicos para a indústria têxtil.
Era normal ter de visitar os seus clientes, testar com eles os produtos que vendia, saber se estavam satisfeitos com os resultados. Era necessário ser visto para não ser esquecido, numa altura em que a concorrência era muito grande e em que na zona do Vale do Ave, a cada esquina se encontrava uma fábrica têxtil.
Entrei, portanto, a primeira vez na indústria têxtil pela mão do meu pai. Pelos 6/8 anos, as férias de verão eram intermináveis. Ir com o meu pai visitar clientes era um passatempo diferente. Saíamos de manhã, de carro, por estradas e estradinhas, curva, contra curva, acompanhava o meu pai num dia de trabalho. Ele feliz por ter companhia, orgulhoso de poder mostrar a filha e eu contente por ter um dia diferente e por ir passear.
Ainda hoje consigo sem esforço recordar o cheiro do algodão da infância! O Vale do Ave sempre se caracterizou por trabalhar algodões. As lãs eram e são, as poucas que persistem na zona da serra da estrela.
Com ele entrei em diversas fábricas, visitei tecelagens, entrei na preparação à tecelagem (engomadeiras, urdideiras) entrei nos acabamentos… Vi fardos de algodão, tinturarias… Soube o que eram corantes e anilinas e para que serviam. Com ele visitei estamparias. Vi quadros e rolos de estampar. Vi máquinas e mais máquinas em funcionamento. Ouvi o som dos teares…barulho ensurdecedor! Nos acabamentos, um calor louco, principalmente no verão.
Neste tempo, longe de mim pensar que um dia iria trabalhar na têxtil. Acho que o “bichinho” ficou dentro de mim. Quem trabalha na têxtil usa muito a expressão do “bichinho” da têxtil. Quando entra, instala-se para sempre. Torna-se uma paixão.
As artes, as humanísticas… e finalmente o design têxtil
No 9º ano, escolhi a opção de Arte e Design. Adorei. Tive uma professora fantástica que sabia cativar os seus alunos. Fizemos projetos giríssimos. Terminado o 9º ano era necessário escolher a área, a seguir. Vacilei, pensei, ponderei e acabei por escolher humanísticas e mais tarde a opção de sociologia, onde acabei por não entrar por 2 décimas. Fui parar ao curso de Assistência Social. Frequentei o 1º ano, mas não me dizia nada. Não era aquilo que eu queria, não me via a trabalhar como assistente social. Desisti, embora um pouco perdida. Estava num impasse quando soube da existência do Citex (atual Modatex) e mais precisamente o curso de Design Têxtil. Candidatei-me e fui aceite.
Assim começou a minha aventura rumo à indústria têxtil, contra a vontade do meu pai, que verdade seja dita, achava que a têxtil teria os dias contados. portanto, uma profissão sem grande futuro.
Adorei o meu curso, muito trabalhoso e exigente. Completamente vocacionado para a indústria, muito prático. Uma área muito criativa, identifiquei-me por completo.
Criar, inovar, elaborar desenhos, selecionar materiais e fios, escolher e conjugar cores, definir acabamentos, desenvolver colecções. Um mundo de possibilidades. estava no sitio certo!
Experiência profissional como Designer Têxtil…
Comecei a trabalhar em 1993, Arco Texteis – Empresa Industrial de Santo Tirso, onde anteriormente tinha feito o estágio de 6 meses , de finalização do curso. Como qualquer principiante, tinha muito a aprender, mas rapidamente me tornei responsável pelo desenvolvimento e criação das colecções anuais da empresa, de camisaria para homem, senhora e criança em tecelagem, bem como de colecções exclusivas para clientes. Trabalhei com marcas como: Hugo Boss, Marks and Spencer, Gant, Next, Lacoste…
Fui responsável pela montagem dos stands da empresa, em feiras nacionais e internacionais, como a Première Vision, em Paris. Visitei clientes em Inglaterra, em Itália…Trabalhei com estilistas Franceses, ingleses, Italianos.
Tive oportunidade de tirar alguns cursos, como o de Gestor de Produto, com HR&G e o Centro Tessile Cotoniero e abbigliamento, Milano e o curso de Técnicas de Design Têxtil e também de Técnicas de Comunicação no Sector Comercial, pela V-Sistemas, do Engº Siza Vieira (irmão do Arquitecto Siza Vieira), entre outros.
Fui crescendo profissionalmente e enriquecendo o meu Knowhow. Por isso a certa altura, achei que devia mudar de empresa, tinha vontade de conhecer formas diferentes de trabalhar e novas pessoas. Assim, mudei para a emblemática Rio Vizela. Empresa já centenária, sediada na Vila das Aves, num edifício deslumbrante. A Rio Vizela tinha pertencido ao conde Vizela, o mesmo dono da Casa de Serralves.
Era um prazer trabalhar em tal empresa, rodeada de história. Dividia o gabinete com a também designer têxtil, Isabel Machado Guimarães. Tínhamos uma vista inspiradora, para o rio e as árvores que o rodeavam…
Na Rio Vizela assumi funções de designer e gestora de produto, para a área de tecelagem – camisaria, vestuário e decoração. Acompanhava o desenvolvimento dos produtos, desde a sua concepção até à fase final. Iniciei o desenvolvimento de colecções próprias da empresa e trabalhei em estreita ligação com vários clientes nacionais e internacionais, na área de tecelagem, para camisaria, vestuário exterior e decoração. Trabalhei com marcas como a Casa Alegre (Grupo Vista Alegre), Benetton, IKEA, Melting Pot, BWA…
Recebia fornecedores de fios, testava novos fios e misturas, estruturas, processos de tinturaria e acabamentos, em parceria com os colegas das respectivas áreas.
Colaborei com a Isabel M. Guimarães, na montagem dos stands da empresa na Heimtextil, em Frankfurt.
Participamos num concurso de inovação, do Citeve, com uma colecção de tecidos para decoração. Ganhamos o 1º prémio. Foi excelente ver o nosso trabalho reconhecido como inovador!
Adorei trabalhar na Rio Vizela, tínhamos uma equipa técnica fantástica, super profissional e onde o espírito de equipa nunca era esquecido.
Infelizmente a Rio Vizela veio a fechar, por razões que não vale a pena referir… Foi difícil desligar-me da empresa e das pessoas.
A vida continua e surgiu um novo desafio, fui trabalhar para a Morlana, em Moreira de Cónegos, com mais 3 antigos colegas da Rio Vizela. O projecto era iniciar o fabrico de tecidos de camisaria, numa empresa até ali, sempre ligada aos lanifícios, à Mondorel em Coimbra.
Era responsável pelo desenvolvimento das colecções de clientes de camisaria e pelo desenvolvimento das colecções da empresa em lanifícios, essencialmente para calças de senhora, em tecidos bi-stretch, lã/viscose e lã/poliéster. Uma área completamente nova para mim.
A Morlana foi crescendo e juntamente com a empresa Oliveira Ferreira, é comprada pelo grupo In Way. Todos os colaboradores passam assim a trabalhar na Oliveira Ferreira, em Riba D`ave , para o grupo in Way. Ali continuamos a trabalhar camisaria e os artigos em lã.
Arco Texteis

Rio Vizela

Oliveira Ferreira

E assim início o meu percurso como Formadora e Freelancer
Estamos em 2003, sou convidada a dar formação no Citex, em horário pós laboral, ao curso de Design Têxtil. Assumo as duas funções durante algum tempo, até que sei que estou grávida. A família vai aumentar e estou a trabalhar longe de casa e a dar formação no Porto. Assim, tomei a decisão de deixar a têxtil a tempo inteiro. Não foi uma decisão fácil, mas a família falou mais alto!
Tornei-me assim, formadora. Descobri outra vocação, a de ensinar. Depois do meu percurso pela indústria têxtil, foi aliciante e motivador, formar jovens para o mundo do trabalho, na área em que sempre tinha trabalhado. A experiencia que eu adquiri, durante 11 anos, de trabalho a tempo inteiro na indústria têxtil, foi-me muito útil para o meu desempenho como formadora.
No Citex (Modatex), fui formadora, quer em áreas criativas, quer em áreas mais técnicas, com debuxo e sistemas CAD CAM, para tecelagem (Colour Weave).
Aqui me mantive até 2011, altura em que terminou o curso de Design Têxtil, no Citex do Porto. Este curso é retomado, mais tarde, mas agora no pólo do Modatex, na Vila das Aves, onde fui convidada a dar formação novamente, a um módulo criativo de Jacquard para decoração em 2018.
Durante o meu percurso como formadora, no Citex, começo também a trabalhar como freelancer, no grupo Perfel e Eurocortinas, em Areias, Santo Tirso. Era responsável pelo desenvolvimento de parte da colecção de cortinas do grupo, na área de tecelagem e bordados. A área dos bordados, foi nova para mim, mas foi mais um desafio interessante. Trabalhei neste grupo, cerca de 3 anos. Até me convidarem a lá trabalhar a tempo inteiro, o que não aceitei. Não queria desligar-me da formação e não queria estar “presa” novamente a uma empresa. Agradava-me puder trabalhar em vários sectores diferentes.
Durante o tempo que trabalhei, no Grupo Perfel e Eurocortinas, tive oportunidade de trabalhar com uma estilista Espanhola, com a qual ainda mantive contacto após a minha saída do grupo e para a qual cheguei a desenvolver desenhos de riscas para almofadas. Esta estilista dedicava-se á decoração de lojas, em Espanha e no estrangeiro.
Voltando um pouco atrás, queria referir, que paralelamente ao meu trabalho como formadora no Citex, do Porto, colaborei também com a Escola Profissional Árvore, dando um seminário têxtil, aos formandos do curso de Estilismo e também colaborei com a ACIB – Associação Comercial e industrial de Barcelos, nas Novas Oportunidades, dando formação na área têxtil a formandas também de Moda.
Citex

Rio Vizela

Modatex

Formações complementares e workshops
Em paralelo com a minha actividade profissional, comecei a sentir necessidade de desenvolver algo meu. Para isso e por isso, fui fazendo alguns cursos e workshops, desde 2006 até ao presente, nomeadamente de:
– Pintura em seda
– Decoupage,
– Papel marché,
– Personalização de t-shits,
– Shoping bags em patchwork
– Bijutaria em tecido – reciclar
– Bijutaria em tecido – criar
– Bonecos em tecido, Modelação de rostos e mãos
– Criatividade, inovação e identidade
– Bijutaria e acessórios de moda
– Planeamento e implementação de Actividades promocionais, de marketing e vendas para exposições e feiras
– Cerâmica Raku
– Tecnologia dos Equipamentos e Técnicas de Tecelagem
– Projectos de Tecelagem Artesanal
– Projectos de Bordados
… Designer e artesã
Experimentei diversas técnicas e áreas. Precisava de me encontrar como designer/ artesã!
O artesanato, o feito à mão, começou novamente a ser valorizado. As manualidades das “avós”voltavam a estar na moda, aliadas a novas técnicas, novas tendências, misturas de técnicas, o revivalismo, o reinventar…
Revivi as lembranças de infância/ adolescência, fui buscar tudo o que tinha apreendido com a minha mãe e com as suas experiencias, tudo o que tinha ficado na memória, acrescentei o que fui adquirindo com as formações e workshops e comecei a dar os primeiros passos, as primeiras peças. Inicialmente, tudo o que fiz foi para a minha filha e para o seu quarto, mais tarde o leque foi-se alargando às suas amigas…assim nasceram as minhas primeiras peças. Em homenagem à minha filha, chamei a minha “marca” Póxicópa! Era uma palavra que a minha filha repetia muito em criança e que até hoje não sei o que quer dizer. Achei piada à palavra e como tudo o que fazia até aí era para criança, dei esse nome.
Formadora para pessoas com necessidades especiais…
Em 2014, fui convidada para dar formação, a pessoas com necessidades especiais, um grande desafio! Dar formação, era prática corrente, mas trabalhar com este novo grupo de pessoas, era completamente diferente. Tive receio de não estar à altura, mas decidi experimentar. Mais um grande desafio, aceite e hoje digo “ainda bem”. Ensinei muitas coisas e aprendi outras tantas. A aprendizagem é constante, é diária, de parte a parte.
Iniciei formação, em Fevereiro de 2014, numa instituição de apoio a deficientes, em Fanzeres/Gondomar.
Ensino tecelagem artesanal, tapeçaria tecida e bordada, macramé, ponto de cruz, meio ponto, Arraiolos, fada do lar, esmirna, croché, tricô em tear, costura, bordados, pintura em tecidos, …
Variadíssimas técnicas, tudo manual. Eu penso nos projectos, de acordo com as capacidades de cada formando. Faço os desenhos e os esquemas de cor e materiais, para os formandos e os projectos são executados por eles.
É um trabalho gratificante e envolvente. É cansativo, pois são muito exigentes em termos de apoio, mas é muito compensador, quando vemos pessoas que apesar das suas dificuldades, as vão tentando superar e querem saber e fazer, cada vez mais e mais… Alguns são exigentes consigo próprios, executam projectos na perfeição. É fantástico acompanhar e vê-los progredir. É fantástico ver os trabalhos depois de prontos. Tapetes, porta lápis, sacos, individuais, almofadas, são exemplos do que temos executado.
Em Janeiro de 2015, inicio funções similares, noutra instituição também de apoio a deficientes, desta vez, em Santo Tirso. Aqui a história repete-se, mas os trabalhos que desenvolvo com os formandos com necessidades especiais são diferentes. Pintura sobre diversos suportes, decoupagé, papel marche, técnicas mistas, pasta de modelar, várias técnicas de pintura em cerâmica, bordados sobre diversos materiais não tradicionais, macramé para pulseiras e painéis, tapeçaria decorativa, arranjos florais… Desenvolvemos também trabalhos para datas festivas, como Natal, Páscoa, dia da mãe e do pai, dia dos namorados. Ajudamos na decoração das mesas para o jantar anual de angariação de fundos da instituição, elaboramos peças para dar a quando desse mesmo jantar. Os formandos aplicam-se, esforçam-se e tentam superar as suas dificuldades. Querem aprender e ficam felizes com o que conseguem realizar.
No site, existe uma galeria de fotos – Formação/ Artesanato, onde podem apreciar alguns dos trabalhos que venho desenvolvendo com os meus formandos especiais, desde Fevereiro 2014 até ao presente.
A marca…
Como disse anteriormente, ensino e aprendo, diariamente!
Estou convencida, que trabalhar com estes formandos com necessidades especiais, foi o “clique” que me faltava para me incentivar a lançar a minha própria marca e a encará-la de forma profissional. Se eu desenvolvo tantos trabalhos com eles, porque não desenvolver peças minhas? Porque não tirar proveito de toda a minha aprendizagem ao longo destes anos? Perguntas que fiz a mim própria e que me levaram a procurar um espaço para trabalhar, o meu ateliê. A criar e desenvolver a minha marca, claro_barbedo. Hoje, marca registada.